sábado, abril 01, 2006

words, words, words

É fácil subestimar a força da própria palavra expressa sobre nossos sentimentos. E no entanto, apenas quando Hamlet expressa seu tormento e ódio é que realmente passa a odiar e a sofrer. O vago receio, uma vez confesso a outrem, convertido em medo não se pode mais ignorar. Apaixona-se o incauto que, até então presa de sentimentos confusos, profere uma jura de amor.

Dir-me-ão os lingüistas e os lacanianos que qualquer sentimento não é senão linguagem, assim como tudo o que é humano, e portanto que o exposto acima não passa de redundância. Posso até concordar com os lingüistas, mas o que quero dizer é que a palavra emudecida, o sentimento calado, ainda que formulado, são muito diferentes do que sucede quando se diz. "Força de expressão" ganha todo um novo significado.

Parafraseio um velho ditado: tem cuidado com o que expressas, pois pode se tornar realidade!

12 Comentários:

Anonymous Anônimo said...

Como estamos líricos hoje...

Ow, Nicols não posta nunca neste trem?

segunda-feira, abril 03, 2006 5:53:00 PM  
Blogger renato said...

Não é? Vou começar a cobrar aluguel...

segunda-feira, abril 03, 2006 6:14:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

O sentimento calado também é desejo, Renatildo. Ele se expressa de outras maneiras... Nem tudo precisa ser dito para ter efeito. Mais do que cuidado com o que falamos, devemos ter cuidado com o que desejamos :-P

Beijos.

quarta-feira, abril 05, 2006 10:48:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Nossa, o papo ficou sério. Concordo com Renatildes que o problema é a palavra, mas não pelo que ela simboliza ou expressa, mas pelo que ela falha em simbolizar e/ou expressar. Quando associamos palavras aos sentimentos eles imediatamente são rotulados, empacotados e distribuídos por aí sem controle. Agora responsáveis por eles, acho que, até inconscientemente, tentamos nos adaptar ao rótulo, para não decepcionar ninguém. Contradições internas todo mundo tem, o tempo todo, sobre quase tudo. 'Contradições externas' parece mais eufemismo para mentira...

quarta-feira, abril 05, 2006 12:02:00 PM  
Blogger renato said...

Não discordo de você, Vivi, mas o que você disse nos devolve ao senso comum. Se não sentisse que a palavra expressa mudasse bastante as coisas, não teria escrito o post.

A Bela tem razão. A palavra e a expressão derivam sua força dos OUTROS. Se nossos sentimentos foram comunicados a mais alguém, mais reais eles se tornam para nós mesmos. Não sei, porém, se a única razão disso é a responsabilidade pelo rótulo. Apelo aos lingüistas de que antes me defendi para dizer que, inclusive internamente, para nos definirmos só temos palavras e rótulos, sejam mais ou menos complexos.

quarta-feira, abril 05, 2006 1:10:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

No que tange à linguagem, ela só possui importância quando nos prestamos a definir, mesmo internamente, os nossos sentimentos. Alguém vê uma cena 'x': fica tonto, tem frio no estômago e tremores. Isso é o fato. Daí parte-se para a definição: me sinto mal ou bem? Ansioso ou doente? Nauseado ou excitado? Isso é o que a linguagem faz.

A diferença é que quase nunca nós fazemos essa análise fria e calculista dos nossos próprios sentimentos, e até quando fazemos, fazemos mal. Mas isso é comum, ora pois. Por isso existe psicanálise.

O problema é quando vc fala, expressa, escreve: é uma cerimônia de oficialização. Por isso o rótulo: nada do que dizemos sobre nós mesmos para os outros é 100% exato (nem 60%, diria), porque quando o fazemos estamos confinados pela linguagem. Aquilo que não fica expresso, e nem tem como expressar, continua lá; acredito que nossa tendência é ignorar os "detalhes" que não se encaixam na definição corrente, e simplesmente seguir o que as regras sociais nos recomendam sobre como agir nesses casos (raiva, amor, medo, depressão, ciúme, etc).

O ponto mais importante, though, é que todos esses problemas com linguagem são facilmente solucionados pela maravilhosa filosofia de Caetano: "Eu te amo. Ou não".

quarta-feira, abril 05, 2006 5:47:00 PM  
Blogger renato said...

É, são facilmente solucionados. Ou não. Você podia ter guardado o "ou não" do Caetano para discussões mais enrascadas do que esta... ou não.

Em tempo: você fala em "problema" várias vezes, e em "solução". Apesar de eu ter dito "cuidado com o que expressas", não vejo a coisa como um problema. Ela é como é. O que seria de nós se isso não houvesse? Segundo você mesma, uma massa complexa de sentimentos inexpressáveis e, no meu entender, menos reais, menos vivos, menos fortes. Talvez seja melhor que a gente se defina pela expressão, ainda que, como você disse, por nos sentirmos responsáveis. Afinal, nem por isso a identidade assim criada será menos verdadeira.

Er, ou não.

quinta-feira, abril 06, 2006 12:51:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ah, you got me there. Concordo. Se não houvesse expressão, não haveria a reação/feedback dos outros, que é, afinal, o que torna tudo interessante.

Also, o que os outros dizem em resposta muda o que sentimos 'internamente', que volta a se expressar de outras formas, e por aí vai.

Acho sim que é um problema. Falha de comunicação. Mas não quer dizer que é ruim. ^___^

quinta-feira, abril 06, 2006 10:41:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Este espaço não deve ser permitido a pobres mortais que, como eu, tem QI abaixo de 150, me calarei (expressando com isso um profundo sentimento de decepção e insegurança, além de velada admiração pela inteligência superior dos colegas)

quinta-feira, abril 06, 2006 11:50:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Tá. Renatildo, meu ponto era que não precisamos falar (ou escrever) para comunicar nossos sentimentos. E as palavras, a linguagem, não dependem da fala, nem da escrita. Uma vez que adquirimos/produzimos a linguagem, ela nos estrutura como seres humanos. Isso era o que dizia Lacan. Ou não.

PS: não tenho NADA mesmo contra as palavras. ao contrário.

quinta-feira, abril 06, 2006 4:43:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ah,sim! Saindo da discussão com o Renato, tem um tópico MUITO legal sobre o tema. Tem coisa mais fera do que observar alguém se entregar "sem querer"? E aqui eu não me refiro a falar demais. Estou falando de troca de palavras e/ou letras, mudando totalmente o sentido do que esperava que a pessoa dissesse. Sabe que, quando isso acontece comigo, eu raramente percebo que troquei a palavra? Tem gente que percebe em seguida e já "corrige". Eu, não. Alguém ri e comenta. E eu nunca "lembro" que falei o que estão me dizendo. Olha, não é por nada, não. Mas Freud era massa DEMAIS! :-P Continuemos a discutir sobre linguagem!!!

quinta-feira, abril 06, 2006 4:58:00 PM  
Blogger renato said...

É verdade que é a solidão essencial. Será que é das incomunicabilidades que decorre? Que coisa...

segunda-feira, abril 10, 2006 10:41:00 AM  

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